Lamento
Esperança cada vez menor em uma safra positiva
Após 19 dias de liberação da pesca do camarão, lagoa ainda não salgou e pescadores já tratam como impossível a pesca do crustáceo
Paulo Rossi -
A esperança de uma safra positiva na pesca do camarão diminui a cada dia. Quase três semanas após a liberação da pesca na Lagoa dos Patos, permitida a partir de 1º de fevereiro, a maioria dos trabalhadores relata que o crustáceo ainda não foi encontrado. Pior, a água segue doce, ambiente desfavorável para a sua chegada. Tudo isso, somado às chuvas em grande volume nos dois primeiros meses do ano, faz com que a maioria das pessoas que dependem da pesca para sobreviver jogue a toalha quanto à possibilidade de encarreirar a segunda safra positiva em sequência.
À beira da lagoa na Colônia de Pescadores Z-3, a maioria dos trabalhadores conserta redes ou bate papo. Poucos, ou nenhum, se arriscam a tentar a sorte na lagoa. O preço do óleo é alto e, se há camarão, é próximo a São José do Norte, longe demais, e em pequenas quantidades. O que se encontra é corvina, em pouca quantidade e de tamanho pequeno, além de bagres, em grande quantidade, mas proibido de pescar. O problema, dizem, foram as chuvas e o vento Sul. Segundo o aplicativo Agromet, desenvolvido pela Embrapa, 2019 já registrou 433,2 milímetros de precipitações em Pelotas, tendo sido 129,6 milímetros apenas em fevereiro.
A água está escura, um indicativo de que o sal não chegou aqui. "Todos nós dependemos da água salgada (...) o verão de água doce é cruel. A lagoa se proíbe sozinha", lamenta Danilo Conceição Rodrigues. O pescador diz que os principais peixes que poderiam render frutos aos pescadores daqui, além do camarão, não chegam sem salgar. Traíra, tainha, entre outros, do jeito que está, "não se tira nem para comer".
O vento é outro impeditivo e o pescador Alexandre Bernardo já jogou a toalha. Diz que a saída agora é aguardar o dinheiro do seguro-defeso para tentar equilibrar as finanças. E lamenta que a cada dia de vento Sul, considerado bom, outros cinco ou seis são Nordeste. Desta forma, a água salgada não consegue adentrar a lagoa. A saída seriam vários dias com vento positivo e uma estiagem considerável. No entanto, o Climatempo já projeta mais 83 milímetros de chuva nos próximos sete dias.
Com todas estas questões, as expectativas, que chegaram a ser bastante positivas em dezembro pelos indicativos climáticos, acabam definhando. "Não temos esperança para camarão este ano... nem tainha. Eu não sei o que vai ser do pescador", lamenta Antônio Tomaz Oriano. Aos 82 anos, pescou por 67. Há dois aposentado, é pessimista quanto ao futuro da profissão. Antes da safra positiva do ano passado, por cinco anos o camarão não entrou na lagoa, pelos mesmos motivos. "Se não é o seguro-defeso, tinha gente aí passando fome", concluiu.
Pescadores irão à Câmara
Um grupo de pescadores irá nesta terça-feira pela manhã até a Câmara pedir aos vereadores que cobrem da prefeitura melhorias na estrada de acesso à Colônia Z-3. Será entregue um documento apontando as dificuldades de moradores, comerciantes e visitantes ao local. "Nos dias de chuva está intransitável. Ficamos ilhados, sem poder sair ou chegar na Z-3. Nunca houve esse grau de falta de conservação e limpeza", reclama o presidente do Sindicato dos Pescadores, Eduardo Estanislau. Na última sexta-feira, a Defesa Civil interditou pela segunda vez no mês a estrada devido às péssimas condições durante as chuvas. Nesta segunda-feira (18), a reportagem encontrou máquinas da prefeitura arrumando o pavimento da via.
Os trabalhadores também irão cobrar apoio político quanto ao pagamento do seguro defeso. Segundo Estanislau, famílias da comunidade estão enfrentando dificuldades porque ainda não receberam o benefício a que teriam direito entre os meses de novembro e janeiro, quando a pesca é proibida.
(Com informações de Vinícius Peraça)
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